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Adolescente no crime cresce quase 70% no Vale

Menor é preso acusado de matar adolescente em Taubaté. Foto: Rogério Marques Menor é preso acusado de matar adolescente em Taubaté. Foto: Rogério Marques
Reincidência preocupa a polícia da região; tráfico de drogas é o crime mais cometido pelos jovens
Wilson Silvaston
São José dos Campos

“A gente cria, educa, orienta, mas infelizmente as más companhias acabam levando ao caminho errado.”
Esse foi o desabafo de uma mulher de 48 anos, quando descobriu que o filho, de 16, era responsável pela morte do proprietário de uma lotérica, no Campo dos Alemães, zona sul de São José.
O assassinato aconteceu durante um assalto, no dia 7 de julho. Era a segunda vez que o mesmo rapaz roubava o local. Ele foi detido pela polícia em setembro e, após confessar o crime, foi encaminhado para a Fundação Casa. “Fiquei sabendo que mataram o homem, mas nunca imaginei que meu filho seria capaz disso.”
De acordo com dados da Secretária de Segurança Pública, 560 adolescentes foram apreendidos pelas polícias nos nove primeiros meses deste ano no Vale do Paraíba e Litoral Norte. 
O número representa um crescimento de 68% em relação ao mesmo período de 2011, quando 333 jovens foram pegos em flagrante cometendo delitos. 
O crescimento de ocorrências envolvendo essa parcela da população na região ficou bem a cima do registrado no Estado, que foi de 22%.
Das seis seccionais da RMVale, São José registrou a elevação mais expressiva, 115%, passando de 132 apreensões por ato infracional no ano passado, para 285 em 2012.

Reincidência. O aumento de apreensões pode ser explicado em parte pelo reforço no efetivo da Polícia Militar, ocorrido em julho, que acrescentou mais 210 homens ao patrulhamento diário das cidades.
Mas para o comando da PM, a reincidência é outra explicação para o resultado. “Se esse adolescente não sofre consequências pelo ato que cometeu, ele se sente estimulado a fazer de novo”, disse o coronel Leônidas Pantaleão de Santana, comandante do CPI-1 (Comando de Policiamento do Interior) da região.
Não há uma estatística oficial do número de adolescentes que foram detidos mais de uma vez, mas apenas um jovem chegou a ser apreendido pela polícia 13 vezes neste ano, por crimes como tráfico de drogas, furto de veículo e porte ilegal de armas. “Em um intervalo de onze dias ele foi flagrado três vezes, em duas cometeu o mesmo delito.”
 
Recrutas. O tráfico de drogas ainda é o principal motivo que leva esses meninos e meninas para a reclusão. Dos 601 boletins de ocorrência de tráfico de entorpecentes registrados até setembro em São José, 215, ou 35,7%, foram feitos na Diju (Delegacia da Infância e Juventude), da cidade.
“Esse jovem é acolhido pelo tráfico, que protege e oferece retorno financeiro, coisa que o Estado não tem feito. Então é fácil entender porque ele é seduzido para o crime”, disse João Marcos de Paiva, promotor da Infância e Juventude de São José
O representante do Ministério Público discorda que haja falta de punição e diz que os casos de reincidência são pontuais. “A reincidência é tratada de acordo com o que diz a lei e todos os atos infracionais graves, quando devidamente caracterizados, são punidos.”
Paiva defende que é preciso ter cuidado em eleger o jovem como a causa de todos os problemas da sociedade. “O jovem não é o chefe do tráfico. Ele é preso mais vezes porque está mais vulnerável nas ruas, na ponta do processo”, disse.
Ele cobra que sociedade precisa entender que o jovem não é a causa da violência, mas sim a consequência. 
“Não é jovem que está mais violento, são as políticas públicas que estão falhando.” 
 
Menores são apreendidos com arma - Foto: Warley Leite
DETENÇÃO DE JOVENS
RMvale 
2011 - 333 / 2012 - 560 
Alta de 68%

São José 
2011 - 132 / 2012 - 285 
Alta de 115%

Taubaté 
2011 - 26 / 2012 - 29
Alta de 11%

Jacareí 
2011 - 65 / 2012 - 64 
Queda de 1,5%

Cruzeiro 
2011 - 10 / 2012 - 21
Alta de 110%

São Sebastião 
2011 - 83 / 2012 - 126
Alta de 51%

Guaratinguetá 
2011 - 18 / 2012 - 35
Alta de 94%
 
 
PONTO DE VISTA
"É preciso agir de forma preventiva"
São José dos Campos
Entender os anseios e motivos que levam o jovem para a criminalidade. Esse é o caminho proposto por Luciana Guimarães, diretora do Instituto Sou da Paz, para mudar a realidade do adolescente infrator no Brasil. 
“Hoje as atitudes são adotadas somente depois que o jovem comete o delito e se restringem somente a punição”, afirmou.
A ativista diz que o país é carente de diagnósticos sobre a violência e que para acabar com o problema é preciso entender as causas. 
“No caso do jovem precisamos entender o que levou ele para esse caminho, conhecer sua trajetória, seu histórico familiar e seus desejos, para ai então propor uma medida de resgate.”

Tratamento. Luciana afirma que a sociedade erra em adotar a reclusão como única medida para o enfrentamento da violência. Ela defende que é preciso encontrar outras maneiras de corrigir os jovens infratores. 
 N.P. V. S., 16, preso por assassinar do dono de uma lotérica em São José Foto: Bruno Fraiha

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